Síndrome da Conspiração 23/10/2005
Tudo começou de uma forma silente, com fatos isolados e desconexos estourando aqui e ali, como sói acontecer nas mais renomadas novelas de mistério de John Le Carré e Frederick Forsyte. Estava tudo ali, de forma dispersa é claro, mas absolutamente detectável para quem sabe e quer ler os fatos correlatos.
Começou com o Protocolo de Kioto, chamava a atenção o fato da maior economia do planeta, os EUA, se negarem a firmar compromissos, que afinal iriam proteger aqueles que mais têm a perder no caso da mãe Terra perder a paciência com as peraltices de seus filhos com relação às agressões à natureza. Sim porque estava claro que o mundo não resistiria por muito mais tempo aos desmandos cometidos, em nome da modernidade e do conforto, pelos seres humanos e aqueles que são hoje os maiores responsáveis pela emissão de gases poluentes se negavam a ratificar o protocolo, que ao final, pretende proteger os interesses de seus investimentos.
Depois foram os boatos no tocante à internacionalização da Amazônia. Aqui e ali espocavam na Internet notícias acerca de eventuais currículos escolares nos EUA mostrando a Amazônia como “Terra de Ninguém” ou seja, deles por que de ninguém é que não ficaria. Mapas apócrifos circularam para melhor ilustrar as intenções de nossos irmãos do norte, um tal de general “Nãoseioquê Smith”, assinava a teoria da invasão e anexação pura e simples de nosso território, um diplomata francês Pierre “De Tal”, anuncia aos quatro ventos que: - os brasileiros pensam que são donos da Amazônia, mas não o são. Caramba todos os elementos estavam na nossa cara e não percebíamos.
Como uma conspiração de boa cepa até ensaio geral teve. Sim ensaio geral, pois ninguém vai me convencer que a invasão do Iraque era necessária. O tirano local já estava mais “prá lá do que prá cá”. Armas de destruição em massa estava na cara que eles sabiam que não tinha, afinal haviam sido eles mesmos quem as forneceram, era só somar dois mais dois, ou melhor, subtrair o que já fora utilizado nas briguinhas locais, que se poderia, com bastante acuracidade determinar que nada ou praticamente nada restara. Não quisessem fazer contas, recursos não lhes faltavam para descobrir o que realmente estava ocorrendo, ora quem possui a CIA, o MI-5, o Silvester Stalone, o Arnold Schwarzenegger, pode descobrir o que quiser, a qualquer momento.
Nem a desculpa do petróleo poderia ser utilizada, primeiro porque o petróleo do Iraque já estava fora do mercado desde o bloqueio estabelecido após a decantada “Tempestade do Deserto”, em represália às malcriações de Sadan Hussein no Kuwait. Além disso, todos já sabemos que o ativo escasso, estratégico, crucial do século XXI, não será o petróleo e sim a água e nisso nós brasileiros “nadamos de braçadas”, com desculpas pelo trocadilho.
Quando, já pela virada do século, começaram a circular os boatos acerca da incrível valorização da água, começamos a nos sentir verdadeiros magnatas, temos água prá dar e vender, mais vender do que dar, pois não somos otários. Chegou-se até a imaginar uma organização que substituiria a OPEP, seria a OPÄGUA, claro que nesse novo cartel o Brasil teria participação proeminente, pois água é com a gente mesmo.
Depois vieram, para confirmar a fúria da Natureza para com aqueles que tanto a agrediam, os furacões, já são onze só neste ano. Depois do Katrina e do Rita, agora chega o Wilma, que com ventos de até 180 Km/h aproxima-se, célere da Florida. New Orleans, a menos americana das cidades americanas submergiu sob montanhas de água, afogando o berço do jazz, expondo as mazelas, o preconceito e o despreparo dos EUA para enfrentar catástrofes em seu próprio solo, foi uma suruba, textualmente falando, o que ocorreu no Superdome, fatos de indescritível selvageria ocorreram no país que se arvora ser o berço da democracia e da liberdade. Uma vergonha, até nosso pessoal da Defesa Civil torceu o nariz.
Não bastassem os indícios já descritos, espoca aqui em solo tupiniquim, a seca na região norte. Milhares de peixes, o boto cor de rosa, jazem sobre o solo crestado daquilo que já foi o fundo de um caudaloso rio. Populações, ex-ribeirinhas, agora ilhadas por terra, estão privadas de se locomover, de receber mantimentos e medicamentos, esperam, com a resignação que só o caboclo brasileiro sabe ter, o momento em que as autoridades “responsáveis” se dignarão atendê-las. A última desculpa é de que faltam verbas para o combustível das aeronaves que levarão a ajuda tão esperada àqueles brasileiros.
Ontem por fim se desfez a iníqua trama, durante o Jornal Nacional. Após o âncora, com sua voz impostada informar da rápida aproximação do furacão Wilma do sul da Flórida, aquela belezinha da Fátima Bernardes começa a descrever as mazelas da seca na região Amazônica e aí tudo se descortina, tudo fica claro, como fomos tolos em não perceber antes. Os Estados Unidos estão a roubar-nos o Amazonas a furacões. Meu Deus, bem dizia minha avó que não se pode confiar nesses americanos.
68-114 Brasil
|