Decadência Socialista 06/11/2005
Recente documento da Comissão Econômica para a América Latina (Cepal), com base em dados de 2004 – quinto ano do governo Hugo Chávez – constata que as políticas por ele empreendidas não contribuíram para a redução da pobreza e da desigualdade social.
A despeito do fato da economia venezuelana atravessar uma das melhores fases de sua história sendo o quinto maior exportador de petróleo do mundo, cresceu espantosos 17,9% no ano passado, o estudo constata que a administração chavista foi responsável por um retrocesso bastante expressivo: numa lista de 17 países da região, a Venezuela ficou em penúltimo lugar, no que diz respeito ao combate à pobreza. De 2000 a 2004, o relatório aponta um recuo de 64% no índice de redução da miséria. O Instituto Nacional de Estatística (INE), entidade oficial do governo venezuelano, reconhece que a pobreza cresceu, passou de 42,8% no primeiro semestre de 1999, para 53% no fim de 2004.
A urgência por distribuição de renda foi sempre a bandeira mais visível do governo e, em nome dela, o presidente venezuelano atropelou preceitos consagrados como o equilíbrio entre os poderes.
Com base nos dados acima citados do governo Hugo Chávez, lembrei-me do início dos anos oitenta, logo após minha mudança para o Rio, quando da visita de um amigo de São Paulo, período em que Leonel Brizola e seu Socialismo Moreno haviam tomado de assalto, pela primeira vez, o governo do Estado. Levando esse meu amigo para conhecer as belezas do Rio - naquela época isso ainda era possível sem se colocar a vida em risco - lá pelas bandas de Grumari, ele me perguntou que tal era a experiência de viver o Socialismo Moreno. Olhando-lhe bem nos olhos perguntei se ele já havia visto alguma vez governo socialista sem um programa oficial, feito ao improviso.
Como disse, hoje frente aos dados do governo venezuelano, recordei-me desse diálogo e pus-me a pensar sobre a incongruência que se tornou a doutrina formatada por Karl Marx e baseada na “eterna” luta entre capital e trabalho. Tendo sido formulada, porém, à reboque da revolução industrial, não foi por seus teóricos atualizada, não acompanhou o desenvolvimento do capitalismo, então ainda no seu nascedouro, não se apercebeu das profundas mudanças ocorridas nas relações laborais.
A combinação da inexistência de uma atualização doutrinária, com o colapso do império soviético, criou um profundo vácuo teórico junto aos militantes de esquerda, fazendo com que confundam mais e mais, políticas populares, com populismo demagógico, Leonel Brizola, Hugo Chávez, Luis Inácio “Lula” da Silva, entre outros, são exemplos dessa orfandade ideológica. Na ausência de uma melhor compreensão das relações capitalistas globalizadas, esses neo-socialistas, ao assumir o poder, enfiam os pés pelas mãos. Na ânsia de se perpetuar no poder adotam práticas sociais de um profundo assistencialismo demagógico, que muito mais aliena do que integra o cidadão. Objetivando serem aceitos pela comunidade econômica internacional, adotam uma linha econômica ultra-ortodoxa, de um capitalismo selvagem, aprofundando o abismo entre as classes sociais através de políticas perversas de exagerada remuneração ao capital ocioso.
Creio que os resultados obtidos pela economia venezuelana são o exemplo vivo da total inadequação da esquerda atual aos tempos modernos, transformando-se, contrariando sua intenção ou vocação primitiva, em verdadeiros verdugos do proletariado, acentuando as injustiças sociais e servindo, como verdadeiros fantoches, aos objetivos imediatistas do capital internacional. Cada vez que Hugo Chávez proclama sua “Revolução Bolivariana”, deve fazer com que Bolívar se revire em sua tumba.
O espetáculo demagógico propiciado pelo presidente venezuelano, coadjuvado pela triste figura do espectro do craque argentino Diego Maradona, na reunião de líderes das Américas na Argentina, nos dá a exata dimensão da falta de embasamento teórico-ideológico dos líderes da esquerda atual. Necessitar apelar para palavras de baixo calão para contrapor-se à negação que é o Sr. “Adolph” George Bush, é o cúmulo da falta de argumentos.
68-114 Brasil
|