Cultura

18/03/2011

 

Há uma semana o mundo estarrecido vem acompanhando as tragédias que se abatem sobre o Japão. Após quase dois minutos de um abalo sísmico de rara intensidade, um maremoto, ou tsumami como quer a terminologia globalizada, despejou-se de forma destruidora sobre cidades e vilas, sepultando sob uma montanha de água e destroços, o que ainda estava em pé. Com força incontrolável o mar entrou terra adentro carregando tudo à sua frente, mostrando-nos de forma indiscutível nossa impotência frente às forças da natureza.

 

Mais de sete mil mortos além de milhares de desaparecidos estão contabilizados. Uma multidão de desabrigados, homens, mulheres, crianças e velhos, perambulam como que incrédulos entre os escombros de suas vidas, procurando entender o quê lhes aconteceu.

 

Não bastassem esses episódios por si só tenebrosos, usinas nucleares de que os japoneses, por falta de recursos naturais, são dependentes, ameaçam entrar em colapso causando danos de resultados ainda inimagináveis, trazendo àquele sofrido povo, o fantasma da catástrofe atômica, pesadelo por eles já vivido e que julgavam não ter de tornar a ver.

 

Em meio a essa tragédia de proporções épicas, imagens televisivas nos mostram um povo ordeiramente sobrevivendo em abrigos públicos, organizados em filas buscando água, alimentos e combustíveis, sem gritos nem correrias. Tal comportamento, longe de demonstrar resignação, é resultado da educação de um povo, que mesmo enfrentando as maiores vicissitudes, sabe respeitar o direito do seu próximo, de seu semelhante, sem necessidade de autoridades pseudopaternalistas para organizar seu conviver.

 

Não concordo com os que pensam terem os orientais tal comportamento em virtude de qualquer tipo de diferença racial, de serem física ou emocionalmente distintos de nós, mas sim creio ser fruto de uma cultura ancestral. É certo dirão, ser isso o resultado de uma civilização milenar, mas em algum momento no passado esse povo passou a privilegiar a educação, a estabelecer regras urbanitárias de convívio social.

 

Fico imaginando o quão distante desse ideal de sociedade estamos, não que eu queira que nossa jovem nação, sem história, nem passado, possa como que por condão, dar um salto civilizatório e atingir o mesmo nível cultural daquela sociedade, o que me preocupa não é a distância que nos separa, mas o caminho que temos optado por trilhar.

 

Enquanto vemos os orientais, como os japoneses, chineses e coreanos priorizarem a educação, até como um meio de diminuir as diferenças e de melhor competir junto às sociedades ocidentais. Em nossa Pindorama assistimos aos principais mandatários, pelo menos até poucos meses, se jactarem de sua ignorância, desprezando a educação formal, premiando a esperteza em detrimento do esforço produtivo, dando exemplo vivo à chamada “Lei do Gérson”, aquela que proclama que devemos “levar vantagem em tudo”.

 

Difícil esperar que um povo jovem, heterogêneo e ainda em formação se esforce para se educar, quando têm como exemplo as atitudes do Cefalópode Presidencial e seus pares da classe dominante. Seus heróis são jogadores de futebol, precoce e despreparadamente enriquecidos, que gastam fortunas para proporcionar um tênue e fugaz sonho de Cinderela, a “modelitos” aproveitadoras, que esbanjam beleza e ignorância, cujo primordial objetivo é rapidamente engravidar do infeliz atleta, para garantir economicamente seu futuro. Conduta aliás que, modo geral, é incentivada por seus próprios pais, que também esperam receber algum benefício financeiro da prenhez filial.

 

Torna-se quase impossível antever um futuro promissor quando a rede de televisão de maior audiência no país investe milhões em programas cujo objetivo maior é mostrar o que de mais torpe e vulgar possa existir no comportamento humano. Isso com coberturas diárias e com o maior estardalhaço, utilizando sua enorme capacidade de penetração para cultuar e homenagear esses infelizes protagonistas, que vendem sua honra por um segundo de fama.

 

Sei que para se construir uma sociedade, uma Nação como a japonesa leva tempo e esforço, mas sei também que toda jornada deve começar com o primeiro passo, passo esse que não consigo antever em nosso país.