Concedendo aos Tiranos

21/05/2010

 

 

― “Se o acordo for ignorado, vamos reagir”; avisou Celso Amorim. ― “Se vierem as sanções, os Estados Unidos vão se dar mal”; rosnou Marco Aurélio Garcia. ― “Vou esperar para ver o que vem”; completou Lula com cara de quem acordou invocado. Os recados do chanceler de bolso, do conselheiro para assuntos cucarachas e do presidente da potência emergente deixaram claro que a trinca recém-chegada de Teerã não estava para brincadeira. As demais nações que endossassem o acordo com os “aiatolás atômicos”. Se falassem em sanções contra o Irã, o desacato internacional ao Brasil e à Turquia não ficaria sem resposta.

 

É possível que tenham ocorrido falhas na tradução. É possível que os gringos tenham imaginado que o repertório de retaliações do Brasil não vai muito além do boicote à Copa do Mundo e do cancelamento do Carnaval. O fato é que ninguém deu importância às frases ameaçadoras. Com o apoio das nações que efetivamente influenciam os destinos do mundo, o governo americano substituiu o acordo malandro por outra rodada de castigos aos iranianos provocadores. Restou a Lula botar a culpa nos ianques, proclamar-se vitorioso e bater em retirada.

 

O problema do “país tropical” confirmou o mais recente dos incontáveis fiascos internacionais da Era da Mediocridade, não é o complexo de vira-lata. Essa disfunção, diagnosticada por Nelson Rodrigues, só deu as caras entre 1950, quando a derrota na final contra o Uruguai transformou o brasileiro no último dos torcedores, e 1958, quando a Seleção triunfou na Copa da Suécia. O verdadeiro problema nacional é o contrário do complexo de vira-lata: é a síndrome de com-o-Brasil-ninguém-pode.

 

Já chegou, acredita Lula, portador da síndrome em sua forma mais aguda. Ele decidiu que o país com quem ninguém pode é presidido por um governante que pode tudo. Acha-se capaz de solucionar conflitos cujas origens se perdem no tempo com fórmulas tão singelas quanto as usadas nos anos 70 pelo dirigente sindical, inventado pelo general Golbery do Couto e Silva, escalado para entender-se com os patrões. Não enxerga diferenças entre povos divorciados por ódios milenares e um casal em crise. Dá palpites em conflagrações exemplarmente complexas com a desenvoltura de doutor no assunto. Essa mistura de ingenuidade, soberba e ignorância acabou produzindo uma forma muito singular de mitomania.

 

No cérebro de Lula, vale repetir, a área reservada à acumulação de conhecimentos é um terreno baldio. Por não ter assistido a uma só aula de geografia, ainda sofre para descobrir no mapa-múndi onde fica o Oriente Médio. Mas promete encerrar com duas conversas confrontos sobre os quais nada sabe. Por nunca ter lido um livro de história, ignora que o Irã é a antiga Pérsia, confunde o xá com chá, não faz a menor idéia de quem foi Khomeini. Desconhece o passado que produziu os ahmadinejads do presente. Mas chama de amigo um vigarista juramentado que promoveu a parceiro preferencial.

 

Candidato a secretário-geral da ONU, Lula já é um dos favoritos na disputa do título de idiota útil da década.

 

Esses episódios de nosso presidente trapalhão reportam-me à década de 30 do século passado, onde um dirigente, no mínimo ingênuo senão relapso, de uma importante nação de então, permitiu ser manipulado pelo facínora de plantão, resultando no maior conflito armado que a humanidade já viu.

 

Me refiro aos episódios que antecederam a deflagração da 2ª Guerra Mundial, onde Arthur Neville Chamberlain, primeiro-ministro do Reino Unido de 1937 a 1940, deixou-se manipular por Adolf Hitler, chanceler e  Führer do terceiro reich alemão de 1933 a 1945. Tal como Lula, só que com muito mais capacidade de influenciar, Chamberlain levou a comunidade internacional a fechar os olhos para as violações aos direitos humanos que o regime nazista estava promovendo internamente na Alemanha. 

 

Como se não bastasse, Chamberlain permitiu que o tirano fosse descumprindo os termos impostos à Alemanha pelo tratado de paz de Versalhes (1919), tratado esse que pos fim à 1ª Guerra Mundial. O tratado, entre outras imposições à Alemanha, determinava a perda de partes de seu território para um número de nações fronteiriças, restrição ao tamanho e poderio das forças armadas e uma indenização pelos prejuízos causados durante a guerra.

 

Em março de 1935 Hitler, menos de um ano após a morte de Hindenburg e a tomada total do poder, repudiou abertamente o Tratado de Versalhes ao reintroduzir o serviço militar obrigatório na Alemanha. O seu objetivo seria construir uma enorme máquina militar, incluindo uma nova marinha (a Kriegsmarinee)  e força aérea (a Luftwaffe).

 

Em março de 1936 ele volta a violar o Tratado de Versalhes ao reocupar a zona desmilitarizada na Renânia, situada no sudoeste do país na zona do Rio Reno. A comunidade internacional, comandada pelas grandes potências de então, Inglaterra e França, nada fez, o que o encorajou.

 

Em julho de 1936, a Guerra Civil Espanhola começou, com a rebelião dos militares, liderados pelo General Francisco Franco, contra o governo democraticamente eleito da Frente Popular. Hitler enviou tropas em apoio de Franco, a Espanha tornou-se também um campo de teste para as novas tecnologias e métodos militares desenvolvidos na Alemanha. Em Abril de 1937, os aviões alemães da Legião Condor bombardeiam e destroem, pela primeira vez na história, uma cidade a partir do ar. Foi a cidade de Guernica, na província espanhola da Biscaia.

 

A 12 de Março de 1938, Hitler pressionou a Áustria, sua pátria nativa, à unificação com a Alemanha (o chamado "Anschluss"). Suas tropas entraram na Áustria e Hitler fez um discurso triunfal em Viena na "Heldenplatz" (Praça dos Heróis) onde foi saudado efusivamente por uma multidão de austríacos simpatizantes, muitos deles fazendo a saudação romana adotada pelos nazistas.

 

O próximo passo seria a intensificação da crise com a zona dos Sudetos, de língua alemã, situada na Tchecoslováquia. Isto levou ao acordo de Munique de Setembro de 1938 onde a Inglaterra (Chamberlain assinou o pacto, propondo ainda uma política de contenção) e a França de forma fraca deram vazão às exigências de Hitler, procurando evitar uma guerra, mas entregando-lhe a Tchecoslováquia. No seguimento do acordo de Munique, Hitler foi designado como Homem do Ano de 1938. Isso não nos dá um arrepio, uma sensação de "déjà vu", quando lembramos que Lula da Silva foi escolhido "O homem do ano de 2009" pelo jornal francês Le Monde?

 

A 10 de Março de 1939, Hitler ordenou a entrada do exército alemão em Praga. Nesta altura, os ingleses e franceses perceberam finalmente que deveriam resistir. Resistiram às próximas exigências de Hitler, que diziam agora respeito à Polônia. Hitler pretendia o regresso dos territórios cedidos à Polônia pelo Tratado de Versalhes. As potências ocidentais, só então não aceitaram as exigências de Hitler, mas aí já era demasiado tarde. Não conseguiram chegar a um acordo com a União Soviética para uma aliança contra a Alemanha e Hitler, seguindo a política de "dividir para governar", manobrou para uma posição de força e a 23 de agosto de 1939, Hitler concluiu uma aliança com a União Soviética de Stalin (outro tirano inominável), o pacto Molotov-Ribbentrop, nome dos chanceleres da União Soviética e da Alemanha, os "Celso Amorim" deles, só que sem falar tanta bobagem.

 

A primeiro de Setembro de 1939, a Alemanha invade a Polônia, no que foi seguida pela União Soviética. A Inglaterra e a França reagem desta vez, declarando guerra à Alemanha. A 2ª Guerra Mundial estava começando e iria envolver a humanidade em um conflito que causou a morte de, aproximadamente, setenta milhões de pessoas (cerca de 2% da população mundial da época), a maioria das quais civis. Foi o maior e mais sangrento conflito de toda a história da Humanidade.

 

68-114 Brasil
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