Boas-vindas!!!
Sejam todos bem chegados ao nosso encontro, convidados a celebrar a vida junto de amigos de longa jornada.
Há muitos anos, somamos experiências e conquistas pessoais e coletivas. Aprendemos juntos, na NASCENTE DO PODER AÉREO, a enfrentar dificuldades e desafios, construindo nosso destino e nos tornando responsáveis por ele, lutando ainda pelo engrandecimento da Força Aérea e do nosso Brasil.
Com este sentimento no peito, não vimos a possibilidade de desistência, mas sim as chances de podermos prosseguir por vários caminhos e estar SEMPRE JUNTOS!
Que haja muita alegria e confraternização e possamos aproveitar cada momento deste nosso tempo mágico.
68 é a nossa marca e o nosso estigma.
Ótimo encontro para todos os presentes!
Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.¨
(Fernando Pessoa)
O que significa a ESTRADA REAL para a turma de 68? Para responder a esta instigante questão, vamos começar pela história.
A Coroa Portuguesa pretendia aumentar seus lucros na exploração da colônia brasileira e para isso estimulou o ¨bandeirismo¨, fenômeno típico de origem paulista, ou melhor, vicentina, já que o termo paulista só passou a existir mais tarde. Na região de São Vicente existiam poucos portugueses que se dedicavam à captura de índios e pesquisa mineral. Para aumentar a população, usavam índias (as Cunhães) como verdadeiras matrizes de reprodução humana, originando o mameluco.
Cumprindo pedido do Rei de Portugal, Fernão Dias partiu com sua ¨bandeira¨, em 1674, em direção a Guaratinguetá. Pela mata cerrada, subiu a serra da Mantiqueira, buscando a lenda do “Eldorado” e suas riquezas. Os índios do litoral alertavam para os bravios habitantes do interior, os perigosos índios Cataguás; por isso a região desconhecida além daquela serra seria o Sertão dos Cataguás.
Foi encontrado muito ouro nos cursos d’água, nos tabuleiros (local de terra menos úmida) e nas grupiaras (encostas dos morros). Entretanto eram enormes as dificuldades e as disputas pelas riquezas encontradas. O Ciclo do Ouro marcou a ocupação das novas terras com a chegada de muitos imigrantes (Emboabas), aventureiros, comerciantes e outros.
Os caminhos abertos eram chamados de Estrada Real porque tinha o controle da Coroa Portuguesa. Havia várias estradas e desvios, mas a mais importante era a que ligava Diamantina - Ouro Preto – São João del Rei – São Lourenço, passando ainda pelo Vale do Rio Paraíba (SP), atingindo o litoral em Parati (RJ),
Esse primeiro trajeto ficou conhecido como Caminho Velho. A partir de 1700, saindo de Ouro Preto e Ouro Branco, foi se consolidando o Caminho Novo que atingia diretamente o Rio de Janeiro, passando por Barbacena e Juiz de Fora.
A Estrada Real foi utilizada para ocupação do interior do Brasil e a necessária integração nacional, estimulando a produção agropecuária nas diversas regiões do país (suprimentos para o Ciclo do Ouro) e a própria mudança da capital para o Rio de Janeiro.
Lentamente se formou forte apego e amor pelas novas terras. Foi natural a crescente revolta contra a exploração, pedágios e a cobrança do quinto do ouro. Mas as riquezas nem sempre chegavam ou eram mantidas em Portugal, pois parte era desviada pelos corsários e piratas ou então eram usadas para pagamento de importação de produtos da Inglaterra e rolagem de dívidas bancárias. Este lastro financeiro contribuiu para a Revolução Industrial inglesa ocorrida no século XIX.
Em Minas Gerais proliferaram as artes e os ideais de liberdade. A grande utilização fez com que o viajante francês Saint Hilaire, em sua viagem, por volta de 1816, declarasse ser a estrada tão movimentada como as melhores da Europa, a exemplo daquela que ligava Paris a Toulouse.
Atualmente entidades e organizações promovem eventos, artes, turismo e indústria no entorno da Estrada Real, contribuindo para fixar as pessoas no interior e preservando a bela história do Brasil.
Para comemorar e ilustrar esse período brasileiro, foi feito o seguinte samba-enredo:
Obá, obá, Rosariá, Rosariei
Em sonhos pela Estrada Real
Com esplendor me engalanei
Para brilhar no carnaval
Eu vou brilhar...
O Rei mandou (ô ô ô) Eldorado procurar
Mameluco, vicentino e o bandeirante
Abrir caminho, dar as costas para o mar
Ó Mantiqueira, sua bruma insinuante
Descortinando ricas terras, nobre seara
Explorador se encantou com o filão!
Tem ouro d’água, tabuleiro e grupiara
Mundo assistiu do novo ciclo a eclosão:
O Sertão dos “Cataguás”
Virou Minas Gerais! (Oh, Minas Gerais!)
Parati foi o ouro, Portugal
Mas ao largo o perigo corsário
A importação, o juro bancário
E o inglês se tornou industrial!
A riqueza, ensina a vida,
É o amor a manter, ou conquistar
Se me perdi, não mande me procurar (bis)
No coração, busco a jazida
Vou por todos os caminhos,
Sou novo, sou antigo, tenho raiz
Por essa estrada cresceu a nação e o país.
E hoje, viver a história é energia
Que a arte e o turismo toda gente contagia!
Sem saber ao certo o que era a Estrada Real e muitos sem clareza do que queriam ou buscavam, a turma EPCAR 68 chegou a Barbacena. Garotos motivados, cheios de determinação e também de receios. A vida seria uma descoberta e enorme construção. E mãos à obra!
Para começar bem na largada, tivemos duas referências marcantes para toda a vida. Uma no nível estratégico, na pessoa do grande líder Brigadeiro Camarão com sua visão ampliada de educação, formação de jovens brasileiros e da Força Aérea. O seu discernimento de futuro contemplava a ampliação e lapidação do conhecimento. O desenvolvimento do país, para ele, também exigia a percepção de todo o conjunto, pois precisava da integração da Amazônia. Em todo este cenário, a Força Aérea teria importante participação.
No aspecto tático e de vida, tivemos ainda a felicidade de contar com nosso Comandante e líder Tenente Segadães. A sua presença orientadora ultrapassava a figura do chefe durão e passava mais tranquilidade para os jovens alunos continuarem na sua rotina, mesmo com riscos de muitas “audiências” disciplinares. Sua presença lembrava a figura do irmão mais experiente que nos indicava a necessidade de dedicação a um ideal e fazer as melhores escolhas.
Dois nomes de grande importância para a turma de 68: Camarão e Segadães!
Estávamos ali, na Estrada Real de Barbacena, a procurar o ouro de nossas vidas. Hoje estamos em São Lourenço, no trajeto do Caminho Velho, celebrando e refletindo sobre nossa existência.
Mas o que representa a busca do ouro? O que é o ouro de nossas vidas?
Os aventureiros queriam o ouro físico que reluzia, cuja busca trouxe a realização do destino da nação brasileira. Outra relação da antiga história com o ouro foram os alquimistas. A nossa formação iminentemente técnica e por vezes racionalista nos apresentou a alquimia como algo pré-químico e hoje os estudiosos das ciências humanas e da psicologia profunda interpretaram essas atividades simbolicamente e com muito conteúdo. Os alquimistas procuravam se relacionar com o ouro não vulgar, incorruptível. Eles projetavam suas buscas interiores na matéria. O elixir da vida seria o segredo para uma vida bem vivida. Assim podemos pensar em pontos marcantes nesta nossa longa e bela caminhada e nosso ponto basilar: EPCAR 1968!
Por coincidência ou sincronicidade, o percurso Barbacena-São Lourenço, com diversos desvios e caminhos alternativos, alimenta nossas reflexões.
Nossas vivências foram plenas, buscamos mais que conquistas, queríamos as nossas realizações de vida. Não queríamos a perfeição, mas sermos completos e poder crescer, prosseguir e progredir.
Pessoas e grupos precisam descobrir e vivenciar seus mitos. Há algum tempo, foi apontado que o mito de 68 não seria Ícaro, um verdadeiro “puer” que não ultrapassou sua infância. Ele não seguia normas e muito menos sabia quebrá-las (o que o levou até a morte). Dédalo talvez se encaixe melhor como nosso mito. Ele foi o idealizador do voo com asas de cera para fugir do labirinto de Creta que ele mesmo construiu para o Rei Minos, local onde foi aprisionado. Dédalo resolveu levar, na fuga aérea, seu filho Ícaro que descumpriu as recomendações de segurança, caindo no mar Egeu. Apesar das constantes dificuldades e perseguições, Dédalo fugiu e viveu por muitos anos na Sicília.
Este ateniense, inventor, arquiteto e construtor de muitas maravilhas tinha características especiais. Sabia a importância das normas, regras e recomendações técnicas e por vezes conseguia descumpri-las sem maiores transtornos. Ele não buscava a perfeição, mas a excelência de uma vida plena e bem vivida com todas as realizações possíveis e mais além. Enfrentava os problemas de frente, podia discordar dos reis temporais, mas não dos deuses do Olimpo (o inconsciente). Sem temor ou medo, por vezes avançava nos riscos e na imprudência, mas sabia corrigi-los, saindo de situações limites. Errava, mas consertava! Pode-se ainda dizer que tinha humor, visão prospectiva e seguia em frente!
A turma de 68 tem muito a ver com Dédalo. Não seguíamos totalmente as regras, mas o suficiente. Éramos jovens e não podíamos queimar esta etapa de questionamentos e certa rebeldia. Ver o carnaval acontecendo ao longe, logo na chegada na EPCAR, enfrentando as aulas de militança .... só com muita inspiração e fé no que viria na sequência de nossas vidas!
Com este jeito de construir objetivos, naquela casa de preparação para a vida encontramos nosso tesouro. E construímos a união de 68: ralar, estudar, questionar, brincar e desenvolver o bom humor. Apesar de problemas localizados, a união falava mais alto. Os diferentes se somavam, clareavam a noção de brasilidade e também de crescimento pessoal, profissional e espiritual.
O tempo cronológico (Cronos) passou inapelavelmente. “Quando eu era menino, falava como menino....” O rio seguiu seu curso, a vida continuou com sua meta de transformação e ampliação da consciência. Nada permanece igual. “Somos segundas e sábados”, diria Guimarães Rosa. Mas nossa essência está no nosso Olimpo, no campo maior da nossa personalidade – o inconsciente, nosso interior, onde a vida é criativa e renovadora, onde a fonte continua a jorrar e nos impulsiona em cada dia.
Evoluímos não em linha reta, mas como uma espiral: passamos pelos mesmos pontos, experiências, situações, encontros.... tudo pode parecer muito igual, mas estaremos em níveis diferentes. As próprias ocasiões que temos aos nos reunir em pequenos ou grandes grupos da Turma de 68 não são iguais, pois somamos nossas vivências pessoais com a coletiva. As brincadeiras e os casos podem ter um conteúdo repetitivo, mas sempre acrescentamos um enfoque ou uma nuança antes não percebidas. E assim nossos encontros são sempre energizantes para a nossa alma.
Nessa espiral, ascendemos nas nossas vivências, ampliando sensibilidade e consciência. Se tivermos isso em mente, atuaremos ativamente nesse trabalho que é o de construir uma vida plena e com arte. Como mostra a Física, Trabalho é igual a Força versus Distância. Não basta levantar o assunto ou o problema, precisamos nos deslocar com ele, vendo ainda de outros ângulos, para haver transformação.
Certamente não se vive plenamente apenas com regras e razão. As mais importantes decisões que tomamos no nosso curso muitas vezes têm componentes irracionais e subjetivos que normalmente não compreendemos nesses momentos. E ainda sem contar a impulsividade que por vezes nos domina.
Por tudo isso somos diferentes e iguais ao mesmo tempo, precisamos de discernimento e humor. Para Schopenhauer, o bom humor é a única qualidade divina nos homens. Assim o verdadeiro bom humor agrega e aglutina, só assim cumprirá este objetivo maior. Ele traz o desprendimento e a celebração do encontro. Contam que este filósofo estava mergulhado com seus pensamentos e estava, sem perceber, sobre parte dos canteiros muito bem cuidado. O jardineiro surgiu repentinamente e com muita irritação perguntou: “Quem você pensa que é e o que está fazendo aí?” E a reação tranquila do filósofo: “Pelo menos se eu tivesse as respostas para estas perguntas....!”
O humor e a brincadeira são uma continência à vida que pode ter um paralelo com aquela da vida militar que aprendemos na EPCAR e foi pergunta de prova considerada fácil pelos jovens alunos: atitude, gesto e duração!
Leva a refletir o que significa esta atitude e seu objetivo; o gesto que pode ser verdadeiramente amigável ou agressivo; a duração tem ainda sua grande importância, pois seria conveniente que seguisse o princípio da oportunidade, não passando além das medidas de tempo e intensidade.
Enfim, esta continência prestada com as brincadeiras, mesmo repetitivas, nos une mais ainda. Passados estes verdadeiros “ritos de entrada”, atualizamos nossas conversas e olhamos para a frente.
Citando Carl Gustav JUNG, é particularmente fatal para certas pessoas olhar só para trás. Torna-se absolutamente mais que necessário um objetivo fixado no futuro. Por isso, todas as grandes religiões prometem uma vida no além, um objetivo supramundano que permite ao homem mortal viver a segunda metade da vida com o mesmo empenho com que viveu a primeira. Estas questões são válidas mesmo que o homem moderno não se preocupe tanto com estes temas.
Visitar as memórias do passado e retornar com energia é algo muito saudável, porém exige certo controle do pensamento. Afinal qualquer pensamento pode aparecer na nossa consciência, mas ele só é nosso quando o aceitamos e estimulamos; se for indevido, podemos considerar nossa consciência como um espelho (como de fato é reflexiva) e deixar ir embora sem o assumirmos. Isso é treino, exige trabalho.
Assim temos muito a construir. Com o passar do tempo, por muitos motivos, alguns se afastaram, mas carregamos dois grandes pontos de referência que fazem as nossas vidas terem sentido e meta:
- A vontade de continuar na nossa Estrada Real interior na busca do crescimento ininterrupto;
- Os irmãos da Turma 68, pois muitos estão sempre disponíveis e presentes, fazendo parte da riqueza que a vida nos presenteou.
Com este foco, nos encontramos em São Lourenço, onde nossos caminhos diversos convergem no objetivo de união e participação, características da Turma de 68.
Certamente passaremos ótimos momentos com familiares e amigos, celebrando a vida!
João BOSCO de Oliveira 68-296
OBS:
Contei com a participação efetiva de minha esposa Ingrid e de alguns amigos para a realização otimizada do ENATUR 22 (Álvaro e Sônia, Corrêa e Clycie, Gilberto e Katie, Negri e Eliane,). A atuação criativa da Eliane foi fundamental para o “Queijos e Vinhos”. A inspiração proporcionada por Telles Ribeiro, De Paula, Temístocles, Ribas e Rezende foi muito mais que motivação. Agradeço a todos por ombrear e participar deste grande plano que foi o ENATUR 22.
Alguns irmãos me perguntaram o porquê de tanto envolvimento e dedicação da minha parte para a realização deste encontro. A resposta ao comprometimento pessoal é GRATIDÃO.
Há algum tempo, por alguns problemas localizados, senti que estava me separando dos meus queridos amigos desde 1968. Então, ao invés de continuar na “cobrinha” que nos afastava, resolvi entrar na curva de “reunião” e “voar ala” com a Turma 68. A noção de conjunto me faria muito bem.
Sou muito grato à Força Aérea Brasileira por tudo que me proporcionou, pessoal e profissionalmente. Ficou marcante o início na EPCAR que trouxe a mensagem de SEMPRE JUNTOS!
Eu tinha doado e revertido muito pouco para a Turma de 68, senti que era o momento de dar minha pequena contribuição para ajudar a manter acesa a chama olímpica de união que mantemos em nossos corações!